24 fevereiro 2006

Quem assim escreve...

Escreveu, ontem, Manuel António Pina no JN, com a lucidez que lhe é habitual:

"Há muito que se suspeitava do que agora veio a público sob a forma de indiciação de dirigentes e árbitros de futebol por corrupção e falsificação de resultados e tudo indica que esta seja apenas a ponta de um imenso "iceberg". O que as escutas ordenadas no âmbito do processo "Apito Dourado" revelaram é que o futebol português é hoje um enorme e corrupto polvo, que jogos e campeonatos se ganham muitas vezes fora de campo, nos corredores da Federação e da Liga, e que comprar arbitros é o desporto favorito de certos dirigentes, e ser comprado o de certos árbitros.
É verdade que, no que toca à 1ª Liga, a procissão ainda vai no adro e não custa a crer que, com a prestimosa ajuda que o CPP costuma propiciar a quem pode pagar a advogados a tempo inteiro, prescreva antes de entrar na igreja. Há-de descobrir-se alguma questão formal que invalide as provas e passe pelo processo a lixívia da "presumível inocência". A verdadeira crise da Justiça é esta: a generalizada convicção (que, impotentes, muitos magistrados partilham) de que há duas leis penais, uma para os portugueses comuns e outra para os influentes e poderosos .
Quanto ao mais, porque haveria o futebol de ser uma ilha de honestidade no resto da sociedade portuguesa?"

Boa noite.